Banda anapolina “Os Cabra de Bigode” se dedica ao resgate cultural desse ritmo que, agora, é Patrimônio Cultural do Brasil
“Somos três goiano e um pernambucano do pé rachado, roedor de pequi, tomador de cachaça e pescador de lambari”. Com bom-humor e essa formosura de verso, em bom goianês, se autoapresenta um grupo de rapazes que vive em Anápolis dedicado ao resgate das raízes musicais do forró e que, na hora da escolha do nome da banda – Os Cabra de Bigode – se valeram do mesmo tom brincalhão e divertido e de valorização da linguagem regional. Esses “cabra” atendem pelos nomes de Zeck Mutamba, Léo Rabeca, Emanuel Guimarães e Rogermur – o mais novo da formação – instrumentistas e pesquisadores de culturas tradicionais brasileiras, e estão nessa jornada musical, juntos, desde 2017.
Têm enfrentado uma pedreira nesse tempo, mas um fato que ocorreu no início desse mês, encheu de alento o coração do quarteto. As Matrizes Tradicionais do Forró foram reconhecidas como Patrimônio Cultural do Brasil. O título, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia vinculada ao Ministério do Turismo, certifica os mais de cem anos de contribuição para a cultura, história e identidade do povo nordestino e do Brasil, que tem neste ritmo uma das suas maiores expressões artísticas. A partir de agora, as Matrizes Tradicionais do Forró passam a ser incluídas nas políticas públicas para a salvaguarda da manifestação.
O grupo comemora essa conquista. “O reconhecimento oficial reafirma a importância do forró e suas matrizes para a cultura nordestina e brasileira”, diz Zeck Mutamba, o “cabra” que fica na percussão, na flauta e também na voz. E, claro, valoriza o esforço de todos os músicos que tentam manter viva essa tradição representada na música e na dança. Os “Cabra de Bigode” levam aos palcos o chamado forró de rabeca, com um repertório influenciado por cocos, maracatus, sambas, cirandas, entre outros gêneros musicais enraizados na Zona da Mata, em Pernambuco.
Para quem não conhece, a rabeca é um violino popular construído artesanalmente, tem um som peculiar e é utilizada em festejos nordestinos. Tem o som mais rústico, mais agressivo e não faz parte dos currículos das escolas de música do país. Para aprender é só ouvindo os mestres rabequeiros. Na banda, o rabequeiro é Léo Morais ou Rabeca, que também é percussionista e canta. Todos eles cantam e são percussionistas, mas só Emanuel Guimarães toca violão. Rogermur, que chegou agora à banda, também é cantor e toca vários instrumentos.
“Embora o forró seja típico do Nordeste, não deixamos a goianidade de lado na construção do nosso repertório”, explica Zeck. O linguajar do matuto nordestino, do caipira goiano e o cancioneiro popular são matéria-prima de seu trabalho. Segundo “Os Cabra de Bigode”, a irreverência e a comicidade típica goiana, presentes nos causos e histórias, prosas e violas, fazem par com o forró pé de serra, com o rastapé.
A banda tem se apresentado em inúmeros eventos de Anápolis, Goiânia e Pirenópolis, mas pretende ampliar sua cartela de shows. Eles explicam que, com a pandemia, foi preciso reduzir o ritmo, mas já estão se organizando para acelerar os passos. O contato da banda é o (62) 98119 3926 e quem quiser seguir, o perfil no Instagram é @oscabradebigode.