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Epidemiologistas temem caos

Profissionais de saúde afirmam que a falta de testes na rede privada para detectar covid-19 levará sistema de saúde do País ao caos. Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramaed) diz não saber até quando laboratórios conseguirão atender a demanda, que cresceu principalmente por causa da alta transmissibilidade da Ômicron. 

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) alerta para a possibilidade de falta de testes de antígeno e PCR (o molecular, tipo mais preciso), se estoques de insumos necessários para os exames para o diagnóstico da covid-19 não forem repostos “rapidamente”.

A Abramed diz não saber até quando os laboratórios conseguirão atender a demanda por testes, que cresceu principalmente por causa da alta transmissibilidade da variante Ômicron, e recomenda parar de testar casos leves da doença. O Ministério da Saúde, no entanto, se desvinculou do eventual cenário de escassez na rede pública e atribuiu a responsabilidade pela testagem no País aos Estados e municípios. Em nota, a pasta chefiada por Marcelo Queiroga informou estar atenta à situação de testes para covid-19 e disse realizar “rotineiramente” o monitoramento da disponibilidade dos insumos necessários para a realização dos exames no Sistema Único de Saúde (SUS).

O ministério, porém, destacou que cabe aos Estados e municípios adquirir os recursos para os diagnósticos. “No entanto, por conta da pandemia da covid-19, a pasta tem apoiado os Estados com a disponibilização dos testes. Desde o início da pandemia foram entregues mais de 27,4 milhões de testes do tipo RT-PCR e 38,8 milhões de testes rápidos de antígeno para todo o País”, diz a nota do ministério.

Minutos antes da divulgação da nota, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) apresentou ofício ao ministro Queiroga com demandas que envolviam, dentre outras medidas, “o aporte de recursos financeiros para abertura, no menor tempo possível, de pontos de testagem em massa para acesso de primeiro contato de toda a população”. No mesmo documento, é solicitado o reconhecimento da existência de uma nova onda de covid-19 no País provocada pela disseminação da variante Ômicron.

Diante da possibilidade de desabastecimento dos estoques, a Rede D’Or, de hospitais privados, disse que já tem priorizado pacientes com indicação clínica, internados e profissionais de saúde, diante da alta demanda de exames. A testagem dos casos não graves será retomada “tão logo haja um reequilíbrio entre a demanda e os insumos disponíveis”. A Dasa, grupo brasileiro dono de dezenas de redes de laboratórios de medicina diagnóstica, afirmou priorizar casos graves e profissionais de saúde. Já a Rede de farmácias RaiaDrogasil suspendeu o agendamento online para testes de covid.

“A gente está vivendo uma situação parecida com a do início da pandemia, quando havia uma disputa internacional pelos kits de diagnóstico e reagentes”, afirmou o presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik, lembrando que, no Brasil, dependemos de insumos importados para os exames. “Esses insumos são fabricados nos EUA, na Europa, na China, na Coreia do Sul; o que acaba acontecendo é que os países que investem pesado em testagem e aqueles onde os produtores estão localizados estão tendo prioridade.”

A epidemiologista Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo, afirma que a falta de testes na rede privada levará ao “caos” no sistema de saúde do País, uma vez que 28,5% da população brasileira recorre ao entendimento particular por meio de planos de saúde, como consta na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019 realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisadora avalia que a defasagem na testagem em laboratórios e centros de medicina diagnóstica pressionará ainda mais o Sistema Único de Saúde (SUS).

Gravidade

Segundo a Abramed, seus associados respondem por mais de 65% de todos os exames realizados pela saúde suplementar no País. Para eles, a associação emitiu nota técnica pedindo pela priorização de pacientes a serem testados.

A escala de gravidade se dá na seguinte ordem: pacientes que tenham maior gravidade de sintomas; doentes hospitalizados e cirúrgicos; pessoas no grupo de risco; gestantes; trabalhadores assistenciais da área da saúde; e colaboradores de serviços essenciais.